Carne de frango e ovos seguem seguros para o consumo, segundo especialistas
Professoras do IFFar explicam surto de gripe aviária no RS e orientam sobre riscos, prevenção e segurança alimentar
Publicado em 20/05/2025 às 11:30
Atualizado em 20/05/2025 às 11:39
Capa Carne de frango e ovos seguem seguros para o consumo, segundo especialistas

Foto de Banco de Imagem: Asgav

Em entrevista à Rádio Luz e Alegria nesta terça-feira, 20, a diretora-geral do Instituto Federal Farroupilha – Campus Frederico Westphalen (IFFar), professora Silvana Pedroso, e a médica veterinária e docente do curso de Medicina Veterinária, Silvana Vidor, abordaram com profundidade o surto de gripe aviária confirmado recentemente no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul.

As especialistas explicaram como ocorre a transmissão do vírus, quais são os riscos reais para a saúde humana, os impactos econômicos e sociais do surto, e, sobretudo, as medidas de biossegurança que devem ser adotadas pelos produtores e pela população em geral.

“É uma zoonose com taxa de mortalidade de 50% nos casos humanos”

A professora Silvana Pedroso iniciou explicando que a gripe aviária é causada por um vírus do tipo Influenza A, e que a doença é classificada como zoonose, ou seja, pode ser transmitida de animais para seres humanos.

– É uma doença que pode ser transmitida de aves para humanos, principalmente por contato direto com animais contaminados ou com secreções e materiais infectados, como fezes, penas ou ração contaminada. A transmissão entre pessoas é extremamente rara, mas os casos humanos que ocorrem costumam ser muito graves –, alertou a docente.

Ela destacou que o vírus pode acometer tanto aves domésticas, como frangos, galinhas e perus, quanto aves silvestres como patos, marrecos, pombas e gansos. “Por isso é tão difícil conter o avanço da doença quando aves silvestres estão envolvidas. O controle passa a depender de medidas rigorosas de biossegurança e da vigilância constante dos rebanhos”, afirmou.

A médica veterinária Silvana Vidor complementou explicando os sinais clínicos que produtores e técnicos devem observar nas aves. “Os sintomas incluem secreção nasal, tosse, diarreia, dificuldade respiratória, inchaço da cabeça e do pescoço e, principalmente, a morte súbita de um grande número de animais. Quando esse tipo de quadro se apresenta, é fundamental notificar imediatamente as autoridades sanitárias. Não se deve tentar tratar as aves ou administrar medicamentos sem orientação”, advertiu.

Segundo Vidor, o uso inadequado de antibióticos ou antivirais pode gerar resistência viral e prejudicar o controle da doença tanto em animais quanto em humanos.

– Não é uma enfermidade que se trata. A recomendação oficial é o isolamento dos animais, o bloqueio da área e a comunicação imediata às Inspetorias Veterinárias. O produtor pode notificar diretamente, ou então procurar um médico veterinário, uma cooperativa ou entidade ligada ao setor agropecuário –, afirmou.

A diretora Silvana Pedroso chamou a atenção para a gravidade dos casos humanos: “A taxa de mortalidade nos casos de gripe aviária em humanos é de aproximadamente 50%. Felizmente, a transmissão direta para pessoas é muito rara e costuma ocorrer apenas em situações de contato intenso e sem proteção, como em granjas contaminadas. Por isso, é fundamental o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) por trabalhadores do setor avícola e por profissionais da área técnica”.

"É seguro consumir carne de frango e ovos”

O surto confirmado em Montenegro foi detectado numa granja de matrizes de frango localizada na localidade de Bom Jardim do Caí. Segundo os dados apurados, aproximadamente 15 mil aves morreram em decorrência do vírus e outras duas mil foram sacrificadas de forma preventiva para evitar a disseminação da doença.

De acordo com Silvana Vidor, a granja afetada deverá passar por um processo conhecido como “vazio sanitário”. “Durante pelo menos 30 dias, nenhuma nova ave poderá ser introduzida no local. Toda a estrutura será desinfectada, e o ambiente será monitorado para assegurar que não haja mais circulação viral. Só após esse período é que a propriedade poderá voltar à produção”, explicou.

Para conter o avanço da doença, as autoridades sanitárias isolaram um raio de 10 quilômetros ao redor da propriedade contaminada. Neste perímetro, aproximadamente 300 propriedades estão sendo visitadas e monitoradas.

– O objetivo das autoridades é demonstrar que se trata de um foco isolado e que não há disseminação generalizada, o que é fundamental para a retomada das exportações –, afirmou a veterinária.

A diretora do IFAR também tratou das consequências econômicas já sentidas. Até o momento, países como China, Japão, União Europeia, México, Argentina e Uruguai suspenderam temporariamente a importação de carne de frango do Brasil. Silvana Pedroso lembrou que, embora haja fundamentos sanitários nesses embargos, há também componentes comerciais e políticos.

“Há uma disputa de mercado, e países concorrentes se aproveitam desses momentos para proteger seus produtores internos. Infelizmente, isso afeta muito o nosso setor, que é um dos maiores exportadores de carne de frango do mundo”, declarou.

Apesar do surto, ambas as especialistas reforçaram que não há qualquer risco no consumo de carne de frango ou de ovos. “O vírus não resiste ao cozimento. Basta preparar corretamente os alimentos e manter os cuidados básicos de higiene na cozinha. Os produtos que chegam ao consumidor passaram por inspeção rigorosa e vêm de plantas frigoríficas certificadas”, assegurou Silvana Pedroso.

Ela também recomendou que a população tome a vacina contra a gripe comum. “Embora a vacina da gripe que tomamos todos os anos não proteja diretamente contra a gripe aviária, ela ajuda a evitar coinfecções e reduz o risco de complicações em caso de eventual contaminação”, explicou.

Por fim, Silvana Vidor alertou que os maiores riscos estão nos criatórios domésticos e propriedades de pequeno porte, onde as aves costumam ficar soltas e os galinheiros não têm vedação adequada.

– A recomendação é manter os animais confinados, reforçar as telas para evitar a entrada de aves silvestres, e redobrar os cuidados com a alimentação, a água e a limpeza. A biosseguridade é hoje a principal arma contra a gripe aviária –, concluiu.

As especialistas encerraram a entrevista com um apelo à responsabilidade coletiva. “É um momento de atenção, mas não de pânico. A população pode seguir consumindo carne e ovos normalmente. O mais importante é que todos, especialmente os produtores e profissionais do setor, cumpram os protocolos de segurança e notifiquem qualquer suspeita. A avicultura gaúcha e brasileira depende da vigilância de todos para superar essa crise com responsabilidade”, disse Silvana Pedroso.

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Almir Felin